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O CONDE E O BAMBU-FREIO

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Na Fazenda Serra Boa Vista, perto de Lima Duarte e nas proximidades da Serra da Ibitipoca, o amigo Paulo comprou com seu pai Haroldo uma propriedade bem no alto da Serra. Lá é tão alto, mas tão alto que a Cachoeira Água Serenada fica na parte baixa da propriedade que era um antigo vulcão submarino extinto.

 

Bem, a subida não é para qualquer um não! E, em alguns pontos, os novos proprietários até calçaram de pedra a estrada para que os carros, mesmo os 4x4, pudessem subir mais facilmente, principalmente nos dias de chuva. Mas as dificuldades da subida não são nada desafiadoras para a Manuela, uma camionete Rural-Willys, verde e antiga, que nunca negou fogo. Manuela merecia vida boa: ficava guardada e descansando durante a semana num galpão exclusivo na parte baixa da serra, conhecida como Manejo. No caminho para a Boa Vista, depois de milhares de diligências preparatórias, era lá que deixávamos o carro sem tração e entregávamos a “traia toda” para a Manuela.

 

Quando tudo estava pronto para a subida, lá íamos nós, convidados e proprietários, alguns empoleirados na caçamba da camionete, com a tração 4x4 acionada manualmente e de primeira marcha, galgando, metro por metro, o caminho íngreme. A subida lenta nos abria os olhos para uma paisagem exuberante: a imensa paineira florida, a cachoeira e as misteriosas moitas de bambu-freio antes de cada curva.

 

A chegada lá em cima era uma festa. Depois que a Manuela, ao chegar na parte menos inclinada da estrada pedia – não – gritava pela segunda marcha, já era hora de parar o carro, alcançar a roda dianteira e desbloquear manualmente a tração 4x4. Então, nos sentávamos na “beiraduprecipício” para apreciar as belezas do mar-de-morros lá embaixo. O papo corria solto ao lado do início da queda d`água, que de tão alto não chegava a tocar o solo.

 

Uma coisa que sempre intrigava os visitantes era a origem de uma “espécie de bambu” criada pelo Haroldo, o Conde da Boa Vista. O epíteto se devia, ao seu falar pausado e sábio. – Haroldo explicava, “sério”, a origem do “bambu freio”. Com medo de que a Manuela “abrisse o bico”, isto é, perdesse o freio no meio da “pirambeira”, ainda mais em dias chuvosos, o Conde teve uma ideia brilhante. Com a precisão dos engenheiros, ele bolou um sistema de frenagem natural emergencial.

 

A moita de bambu era a engenhoca perfeita para este professor Pardal. Em cada final de reta, a cada 50 ou 100 metros, Haroldo resolveu plantar moitas de “bambu freio”, que “Graça-a-Deus” nunca foram usadas “inté” hoje.

 

Alexandre Müller Hill Maestrini